A Comunicação Não-Violenta como ferramenta para Habilidades Sociais

Por Mayra Moura – Consultora Pedagógica

“Quem não se comunica, se trumbica”. Com esse bordão, Chacrinha (José Abelardo Barbosa de Medeiros, 1917-1988), grande apresentador brasileiro de rádio e televisão, alegrava seus expectadores nas décadas de 1950 até 1980.

Chacrinha era um comunicador nato. Sabia, como ninguém, usar a comunicação a seu favor. Para tal, existem ferramentas que podem ser aprendidas para enriquecer nossas habilidades sociais; aprendidas por meio da educação socioemocional nas escolas.

Uma dessas ferramentas, em especial, é a Comunicação Não-Violenta (CNV) proposta por Marshall B. Rosenberg, psicólogo norte-americano, referência no aprimoramento da comunicação humana: “uma abordagem específica da comunicação — falar e ouvir — que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite que nossa compaixão natural floresça.”

Com a CNV, Rosenberg nos alerta para o fato de que muitos dos conflitos e situações de violência ocorrem pelo modo como nos expressamos e ouvimos os outros, nos afastando de nosso estado natural de ser humano que é o estado da compaixão. Para ele, mesmo em situações adversas, a CNV é um meio diferente de falar e ouvir que “se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos”.

Mas como fazemos isso? Como colocar em prática e estabelecer relações de paz e não violentas? A CNV engloba quatro passos e não precisa que o outro interlocutor da comunicação a pratique. O outro será envolvido no próprio fluxo de fala e escuta: “a compaixão inevitavelmente floresce quando nos mantemos fiéis aos princípios e ao processo da CNV.”

O primeiro passo é o da observação: o que as outras pessoas estão fazendo ou dizendo? Essa deve ser uma observação sem julgamentos; é a identificação do fato. O truque é manter-se isento. O segundo passo consiste em identificar nossas emoções frente ao que está acontecendo: raiva, tristeza, alegria, medo? Outras? É um olhar de compaixão para consigo mesmo. Em seguida, o terceiro passo diz respeito às nossas necessidades: o que realmente eu necessito nesta questão em específico? Com quais emoções sentidas minhas necessidades se relacionam? Por fim, o quarto passo é o pedido propriamente dito, a partir da necessidade que foi reconhecida.

Por exemplo, uma mãe poderia dizer ao seu filho: quando eu vejo a pia cheia de louças sujas, fico triste, porque preciso da pia limpa para fazer o jantar. Você poderia lavar a louça que usa durante o dia?

Parte do processo da CNV é esse, simples e claro. Outra parte é receber essas informações dos outros:

“nós nos ligamos a eles primeiramente percebendo o que estão observando e sentindo e do que estão precisando; e depois descobrindo o que poderia enriquecer suas vidas ao receberem a quarta informação, o pedido. À medida que mantivermos nossa atenção concentrada nessas áreas e ajudarmos os outros a fazerem o mesmo, estabeleceremos um fluxo de comunicação dos dois lados, até a compaixão se manifestar naturalmente”.

A CNV, portanto, pode ser utilizada em todos os níveis de comunicação e situações diversas. Desde episódios corriqueiros até grandes conflitos entre povos e países, passando pelo ambiente escolar ou por assembleias e fóruns internacionais; de técnicas de aprimoramento pessoal e até mesmo no campo profissional.

Seja bem-vindo(a) à CNV, seja bem-vindo(a) à uma cultura de paz: “A forma é simples, mas profundamente transformadora.”

Referência: ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.


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