Por Leandro Oliveira – Coordenador Pedagógico
A família é o primeiro espaço de convivência e aprendizado emocional de qualquer indivíduo. É nela que se constroem os alicerces para o desenvolvimento afetivo, social e ético. De acordo com Bisquerra (2003), na gênese da vida, a educação emocional é recebida pelo bebê por meio de seus pais, sendo os vínculos afetivos iniciais responsáveis por moldar a base da regulação emocional da criança.
Para o autor, ignorar esse papel essencial da família pode comprometer o desenvolvimento infantil, tendo em vista que o papel da escola é complementar e auxiliar nesse processo de formação cidadã, mas a família é, e sempre será, a base. Dessa forma, cuidar das emoções no ambiente familiar é essencial para promover relações saudáveis, fortalecer vínculos e preparar todos os membros para lidar com os desafios da vida.

Nesse contexto, no município de Igarapé, em Minas Gerais, foi realizado, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, um ciclo de reuniões com as famílias das crianças da rede integral do município, que utilizam a metodologia Hug nas aulas de Educação Socioemocional. Esse momento de ambiência familiar foi importante para mostrar aos pais e responsáveis como o uso da metodologia tem auxiliado no desenvolvimento emocional e social das crianças no ambiente escolar.
Todos os componentes curriculares são importantes, mas, ter a possibilidade de aulas sobre como as emoções impactam nossos comportamentos e atitudes, e poder desenvolver ferramentas para cuidar de cada uma delas, faz toda a diferença para que cresçamos e nos tornemos adultos mais inteligentes emocionalmente.
Conforme evidenciam Neumann e Missel (2019), a tecnologia trouxe maior facilidade de comunicação e aproximação em contextos digitais. Todavia, as autoras pontuam que estamos vivenciando um afastamento afetivo e uma drástica redução do tempo de convivência social, além do distanciamento de valores fundamentais para a formação cidadã.
Por ser a tecnologia uma parte irreversível da vida familiar, é necessário usá-la como ferramenta de aproximação, e não de distanciamento. Essa mudança de perfil familiar exige uma reflexão profunda sobre os impactos na formação emocional de crianças e jovens.




Durante os momentos com as famílias em Igarapé (MG), abordamos como a ausência de limites bem definidos, aliada à sobrecarga de estímulos digitais, pode dificultar o desenvolvimento da empatia, da paciência e da capacidade de lidar com frustrações, por exemplo. Nesse contexto, destacamos como é fundamental que os adultos reconheçam suas próprias emoções e limites, para que possam ser modelos de equilíbrio e autocuidado para os filhos, pois estes são espelhos e grande inspiração para nossas crianças.
Outro ponto importante foi refletir com as famílias que a convivência familiar, embora repleta de afetos, também é marcada por conflitos. Saber lidar com eles é uma arte que exige escuta ativa, empatia e disposição para o diálogo. Essa prática, nesse contexto, torna-se uma poderosa ferramenta de mediação, capaz de transformar desentendimentos em oportunidades de aprendizado e conexão.
Para Bohm (1996), isso representa uma estratégia colaborativa, onde não há vencedores ou perdedores, mas sim uma construção conjunta de significado, que representa um espaço de escuta, respeito e criatividade coletiva, essencial para transformar relações humanas. Logo, quando as emoções são acolhidas e expressas com respeito, os conflitos deixam de ser ameaças e passam a ser momentos de crescimento.
Por fim, é preciso compreender que cuidar das emoções em família não significa buscar ser perfeito, mas estar presente na vida dos filhos e dos demais membros do núcleo familiar. Estar disponível para ouvir, acolher e dialogar é o que constrói relações sólidas e saudáveis. A educação emocional começa em casa e se estende para todos os espaços de convivência.
Ao investir no desenvolvimento socioemocional, as famílias contribuem para a formação de indivíduos mais conscientes, empáticos e preparados para viver em sociedade. Em Igarapé (MG), as famílias contam com uma parceria e trabalho conjunto entre as escolas e a Hug Education, que atuam promovendo inúmeros benefícios pessoais, relacionais, sociais e profissionais para crianças e jovens de toda a rede integral do município.
REFERENCIAS
BISQUERRA, Rafael. Educação emocional e comperencias básicas para a vida. Revista de Pesquisa Educativa (RIE), 21, 1 7-43, 2003. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/927619926/1-Bisquerra-Educacao-Emocional. Acesso em 27 de outubro de 2025.
BOHM, David. Sobre a comunicação e sobre o diálogo. In: Comunicação não verbal e educação: um olhar filosófico sobre a espontaneidade da comunicação corporal como práxis pedagógica. Olhares: Reflexões e Práticas, p. 88–99, 1996. Disponível em: https://1library.org/article/sobre-a-comunica%C3%A7%C3%A3o-e-sobre-di%C3%A1logo-david-bohm.zkk2ol8z. Acesso em: 27 outubro de 2025.
NEUMANN, Débora Martins Consteila; MISSEL, Rafaela Jarros. Família digital: a influência da tecnologia nas relações entre pais e filhos adolescentes. Pensando Famílias, Porto Alegre, v. 23, n. 2, p. 88–102, jul./dez. 2019. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2019000200007. Acesso em: 27 outubro de 2025.
