Por Milena Tenório – Consultora Pedagógica
A linguagem, a partir de Vygotsky (2007), é nosso principal sistema de representação, sendo desenvolvido através das relações sociais. Ela surge, inicialmente, como um meio de comunicação entre as pessoas e somente depois transforma-se numa atividade interna, de forma a organizar o pensamento do sujeito. Ou seja, o pensamento não se expressa na palavra, mas forma-se a partir dela.

Diante disso, o psicólogo bielo-russo afirma que nos tornamos nós mesmos através dos outros. Então o desenvolvimento do pensamento e da linguagem não é biológico ou inato, mas fruto do meio social, como nos lembra Toassa (2014). O contexto histórico e cultural em que estamos inseridos possibilita a construção e a transformação da forma como nos comunicamos, nos posicionamos e nos relacionamos.
Nesse sentido, o surgimento e a evolução das tecnologias de informação levaram a comunicação para um contexto muito específico, onde as redes sociais são lugares de encontros, mas também de desencontros. Isso porque, ao falar, é possível utilizar recursos como entonação e gestos que guiam um possível sentido para a palavra, já na escrita de uma mensagem de texto, por exemplo, esses artifícios não são possíveis.
Emojis, gifs, imagens e memes são alguns dos signos disponíveis no ambiente virtual e, assim como toda palavra, eles não possuem um significado único partilhado por todos os emissores, cada usuário atribui um sentido a partir de sua vivência. E a possibilidade de dizer sem ser visto ou reconhecido que a internet proporciona pode ser uma motivação para quem escolhe e vivencia uma comunicação agressiva.
Essa questão é preocupante em todo o cenário das redes, mas torna-se ainda mais complexa quando pensamos na comunicação entre crianças e adolescentes, sujeitos que estão em pleno desenvolvimento biológico e muitas vezes não se apropriaram de ferramentas culturais como a interpretação ou a abstração, por exemplo. É nesse ponto que surge a importância da educação socioemocional como forma de cuidado, orientação e prevenção a situações de violência.
Uma ferramenta importante a ser desenvolvida quando se pensa no contato através das redes sociais, é a comunicação não-violenta. Marshall Rosenberg (2006) propõe passos para se comunicar de forma compassiva e honesta consigo e com os outros, sendo eles: observar a situação sem julgamentos, identificar e expressar o que se sente, sinalizar a necessidade, para enfim fazer um pedido.
E a partir da regulação emocional, proposta por Bisquerra (2009) como uma das competências socioemocionais, é possível encontrar caminhos de acolhimento e cuidado a partir do que se sente. Enquanto a consciência emocional chega como um convite à reflexão sobre o próprio vocabulário, junto a um olhar atento ao redor: que nome dou a isso que sinto? Eu consigo perceber e identificar o clima emocional do contexto em que estou inserido?
Portanto, levar a educação socioemocional para as escolas é pensar a qualidade dos vínculos nesse ambiente e como isso reverbera em outros. É assumir o diálogo como transformação do mundo, a partir de uma postura crítica e consciente da realidade (ARAGÃO; NAVARRO, 2004). E é também ensinar, desenvolver e zelar pelo sistema que mais nos humaniza: a tecnologia da palavra.
Referências:
ARAGÃO, A. L. A.; NAVARRO, A. Diálogos em diálogo: David Bohm, Paulo Freire e Mikhail Bakhtin. Educação em Questão, v. 19, n. 5, p. 108-118, 2004.
BISQUERRA, R. Psicopedagogia de las emociones. Espanha: Editorial Sintesis, 2009.
ROSENBERG, M. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
TOASSA, G. Relações entre comunicação, vivência e discurso em Vigotski: observações introdutórias. Psicologia da educação, São Paulo, n. 39, 2014, p. 15-22. Disponível em: n. 39 (2014) | Psicologia da Educação. Acesso em 13 de outubro de 2025.
VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
