Comida de qualidade e práticas socioemocionais: ingredientes para uma escola saudável
Por Ludmilla Santos – Consultora Pedagógica
Nosso convite de leitura hoje é mais que especial, porque, no dia 21 de outubro, comemorou-se o Dia Nacional da Alimentação Escolar. Gostaríamos de conduzir você, leitor, a uma reflexão sobre a conexão entre alimentação escolar e educação socioemocional, a partir da competência de vida e bem-estar.
Para Rafael Bisquerra, existem cinco competências relacionadas à educação socioemocional, vinculadas às habilidades cotidianas nas quais exercitamos, externamos e convivemos com nossas emoções e com as emoções de quem está à nossa volta. São elas: Consciência Emocional, Regulação Emocional, Autonomia Emocional, Competência Social e Competências de Vida e Bem-Estar. A Competência de Vida e Bem-Estar, uma ferramenta imprescindível para o planejamento, a curto, médio e longo prazo, de metas pessoais, de forma a possibilitar o desenvolvimento integral ao longo da vida, buscando torná-la mais saudável em todas as suas dimensões
É através dessa competência que conseguimos identificar o que é necessário para a melhoria na qualidade de vida e criar estratégias para alcançar satisfação e bem-estar desde os aspectos físicos aos emocionais. Assim, estamos falando sobre o equilíbrio de todas as outras competências, assim como dos diferentes campos da nossa vida (família, escola, amigos, comunidade, emoções agradáveis e desagradáveis). Aqui, já podemos compreender melhor o quanto essa competência se conecta com a alimentação escolar, enquanto fator fundamental no processo de aprendizagem.
E esse é outro ponto que gostaríamos de evidenciar: a alimentação escolar vai muito além da merenda. Desde 2009, o Brasil possui o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE (Lei nº 11.947, de 2009), destinado a organizar todos os fatores necessários para que o alimento não apenas chegue à escola, mas tenha qualidade e atenda às necessidades de quem precisa comer para, então, aprender.
A promoção da autonomia na escolha das práticas alimentares envolve não apenas aspectos socioculturais, mas também a construção de conhecimentos vinculados à sustentabilidade ambiental, à valorização das atividades de produção de alimentos naturais incentivando a agricultura familiar, e a soberania dos territórios com uma merenda escolar que esteja alinhada com a cultura alimentar e além de combater a fome, possa desenvolver o pertencimento. Esses são saberes que podem ser desenvolvidos no espaço escolar, a partir de relações socioemocionais saudáveis.


De acordo com reportagem do Centro de Referência para Educação Integral (Basílio, 2016) “além de orientação, a formação dos hábitos alimentares saudáveis deve buscar o diálogo com os valores culturais, sociais e afetivos, além dos emocionais e comportamentais a cada proposta de mudança, somando ao desenvolvimento integral dos estudantes”. O próprio PNAE tem como objetivo “garantir a alimentação escolar dos estudantes matriculados em todas as etapas e modalidades da educação básica pública, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos” (BRASIL, 2024).
Cada pessoa tem seu próprio processo de aprendizagem, e muitos são os fatores que podem interferir em como e quando aprendemos. Se algo não está bem, física ou emocionalmente, os reflexos podem ser percebidos no rendimento escolar. A ausência de uma alimentação adequada, para além dos fatores biológicos atrelados à (des)nutrição do corpo, desencadeia uma série de consequências com reflexos socioemocionais e culturais, entre as quais: dificuldade de interação social, influência negativa na escolha de práticas alimentares saudáveis, desregulação emocional e baixa autoestima.
Podemos perceber que, além do “clima emocional” apontado por Juan Casassus (2008) como uma das variáveis que mais influenciam o processo de aprendizagem, estar bem alimentado é um componente dessa mesma variável, pois impacta diretamente no desenvolvimento das habilidades socioemocionais e, consequentemente, no desempenho cognitivo. Educar com comida de qualidade e com práticas socioemocionais no “chão da escola” são ingredientes perfeitos para alimentar um saber que transborda os muros do espaço escolar e constrói ensinamentos para a vida.
REFERÊNCIAS
BASÍLIO, Ana Luíza. A alimentação escolar é parte do processo de aprendizagem. In.: Centro de Referência em Educação Integral. Disponível em:< https://educacaointegral.org.br/reportagens/alimentacao-escolar-e-parte-do-processo-de-aprendizagem/ >. Acesso em: 08 de out. 2025.
BRASIL. Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Disponível em:< https://www.gov.br/secom/pt-br/acesso-a-informacao/comunicabr/lista-de-acoes-e-programas/programa-nacional-de-alimentacao-escolar-pnae >. Acesso em: 10 out. 2025.
BISQUERRA, R. Psicopedagogia de las emociones. Espanha: Editorial Sintesis, 2009.
CASASSUS, Juan. Aprendizajes, emociones. Paulo Freire, v.7, 6.dic, 2008.
