Por Ludmilla Santos – Consultora Pedagógica e Assistente Social
Quando pensamos em educação, de imediato, nos vem à ideia de um direito e uma das principais formas de acessá-lo é frequentando a escola. Um espaço de múltiplas trocas onde o processo educativo envolve, desde os conteúdos das disciplinas formais buscando o letramento e a formação exigida para o mundo do trabalho, ao desenvolvimento das habilidades de relacionar-se com o outro, interagir e construir vínculos e conhecimentos para a vida.
No entanto, neste texto nosso convite é para uma reflexão que vai além do acesso à escola, compreende a permanência neste espaço durante toda a jornada que vai da educação infantil ao terceiro ano do ensino médio, momento crucial para a ponte entre escola e universidade, ampliando-se o conhecimento acumulado em mais de uma década vivida no espaço escolar.

Muitas são as dificuldades que atravessam o processo de ensino e aprendizagem, impactando de forma tão intensa na vida das crianças e adolescentes que fazem com que a escola deixe de ser uma opção. Inúmeros são os fatores que desencadeiam o que se denomina evasão escolar, mas sem dúvidas os determinantes sociais são os mais frequentes. E o que são determinantes sociais? São fatores que influenciam na condição em que pessoas são colocadas socialmente. Estes fatores são, inclusive, observados como indicadores de saúde, porque são capazes de determinar sobre o modo de vida e bem-estar das pessoas e, da mesma forma, estão diretamente relacionados ao fator escolaridade. Vamos entender melhor?
A habitação é um determinante social imprescindível para pensar a educação pois se uma criança reside em uma área periférica da cidade e que durante o inverno alaga em função da moradia estar em um espaço que não possui saneamento básico, nem escoamento das águas da chuva, provavelmente não haverá condições adequadas para que esse educando se desloque de casa até a escola e isso tende a influenciar na decisão de parar de frequentar às aulas.
Condições econômicas integram um determinante destaque, pois o abandono da escola para trabalhar é uma realidade frequente de jovens na rede pública de ensino: ainda em 2020 pesquisa divulgada pelo IBGE (2020) revela que “a necessidade de trabalhar foi a principal razão alegada por jovens de todas as regiões, para deixar a escola”. A mesma pesquisa indica também que “a passagem do ensino fundamental para o médio é crucial em termos de abandono escolar. O percentual de jovens que parou de estudar a partir dos 15 anos é quase o dobro do das faixas etárias anteriores”.
O próprio ambiente familiar é determinante para a motivação no contexto educacional, ampliando o interesse das crianças desde os anos iniciais. A parceria família e escola é sem dúvida um dos mais importantes pilares para a continuidade exitosa da vida escolar.

Para que se possa avançar em relação aos determinantes sociais e diminuir as situações de risco para o abandono escolar são necessárias políticas públicas que pensem de forma específica cada uma destas realidades e no caminho da busca por este direito podemos entender: qual a relação de tudo isso com a educação socioemocional? A educação socioemocional está presente em todos esses elementos porque, como dito anteriormente, para além de um processo formativo a escola proporciona um ambiente de relações sociais e conhecer e regular as próprias emoções é uma ferramenta valiosa neste processo.
Estudo realizado por Costa (2023), aponta que alunos de famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica vivenciam muito mais eventos estressantes e circunstâncias difíceis que dificultam a participação escolar, engajamento na aprendizagem e alcance do sucesso. Estar consciente e regulado emocionalmente não impede ou minimiza tais eventos, mas promove melhores condições de enfrentamento.
A educação socioemocional promove o desenvolvimento de competências que melhoram as relações no ambiente escolar. Podemos começar falando sobre a consciência emocional que se refere a reconhecer, nomear as emoções que sentimos e consequentemente também conseguir identificar as emoções do outro. A partir desta competência inicial é possível desenvolver estratégias para regular essas emoções, o que dentro da educação socioemocional chamamos de regulação emocional. Não é possível e, tão pouco, saudável, deixar de sentir emoções desagradáveis como o medo, a raiva ou a tristeza, mas somos capazes de aprender a lidar com cada uma delas e entender suas contribuições para nosso desenvolvimento.

Essa dupla de competências permite o alcance da competência social, caracterizada por relacionar-se com o outro de forma respeitosa e empática em uma convivência mais saudável tanto entre os próprios educandos podendo, por exemplo, reduzir a prática de bullying, que também está entre os fatores de risco para o abandono escolar, como contribui para a construção de vínculos fortalecidos entre educadores e educandos podendo despertar maior interesse das crianças e adolescentes pelo ambiente escolar, promovendo incentivo e o desenvolvimento de autoestima, fundamentais para acreditar na própria capacidade e construir perspectivas para o futuro.
Assim, como por meio da educação socioemocional outras ferramentas podem ser desenvolvidas como o diálogo e a Comunicação-Não-Violenta (CNV) que são capazes de fazer com que os obstáculos que se apresentam na trajetória escolar possam ser enfrentados de modo consciente buscando soluções eficientes para cada um de modo específico.
A Escola como espaço de proteção e acolhimento: como o Socioemocional pode contribuir para a construção desse espaço no ambiente escolar? – Hug Education: Que a cada passo a escola seja sempre opção de caminho: a educação socioemocional como ferramenta de enfrentamento a evasão escolar.O diálogo é um método que envolve a criação de um espaço seguro para expressar ideias sem julgamento e abandonando a busca por uma verdade absoluta, respeitando todas as opiniões comunicadas. Já a CNV é uma abordagem da comunicação que de acordo com Rosemberg (2006), permite uma conexão direta com o coração e valoriza o respeito e a empatia.
O filósofo e sociólogo chileno, Juan Casassus, é um dos principais especialistas em educação da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a partir de seus estudos acredita no quanto a afetividade é importante no processo educacional, relata muito do que discutimos aqui sobre condições de vida, participação familiar, políticas públicas, mas considera que um ambiente emocional adequado, gerado pelo bom relacionamento entre professor e aluno, é indispensável.
A escola pode ser convidativa, acolhedora, protetora, transformadora de realidades e tudo mais ao que se propuser desde que consiga construir relações afetivas e vínculos saudáveis entre os integrantes de sua comunidade pois “a escola somos todos nós” que a ocupamos no dia a dia enfrentando as dificuldades e acreditando na construção de um amanhã melhor.
Referências
CASASSUS, Juan. A Escola e a Desigualdade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 119, p. 205–206, 2003. <Disponível em: https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/525>. Acesso em: 27 mai. 2025.
COSTA, Otávio Barduzzi Rodrigues da. Evasão escolar, identificação, causas e características: uma revisão bibliográfica. Revista Educação Pública, v. 23, nº 41, 24 de outubro de 2023. Disponível em: <https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/41/evasao-escolar-identificacao-causas-e-caracteristicas-uma-revisao-bibliografica>. Acesso em 27 abr. 2025.
IBGE. PNAD contínua. Necessidade de trabalhar e desinteresse são principais motivos para abandono escolar. Disponível em:<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/28286-necessidade-de-trabalhar-e-desinteresse-sao-principais-motivos-para-abandono-escolar>. Acesso em 26 abr. 2025.
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais [tradução Mário Vilela]. São Paulo: Ágora, 2006).