Por Ludmilla Santos – Consultora Pedagógica
Atravessar nosso caminho de casa até a escola é um percurso fascinante e ao mesmo tempo repleto de incertezas e inseguranças. Você se sente ou se sentiu assim também? A escola é um ambiente já conhecido por nós, presente em boa parte das nossas vidas, com um número limitado de pessoas, hábitos e culturas provenientes de uma rotina própria do núcleo familiar. Quando crianças, somos inseridos neste novo mundo que nos tira de um lugar conhecido, como a nossa casa, desafiando-nos a aprender, conhecer e transpor do nosso limite para o encontro com o outro.
Assim, esse universo escolar reserva milhares de encontros: culturas, ideias, valores, opiniões e gostos. E é aqui que encontramos um dos maiores desafios proposto a habilidade humana: a interação social. Esta habilidade faz parte da Competência Social trazida por Rafael Bisquerra (2009) como elemento integrante das competências essenciais à educação socioemocional, cuja função se refere à capacidade de construir e manter relacionamentos de maneira efetiva e saudável.

Como bem aponta Zilda Del Prette (2022), na interação social utilizamos de habilidades para cumprimentos e cordialidades que estão presentes em todas as culturas, inclusive entre alguns grupos de animais. As diferenças estão mais relacionadas à forma como esses cumprimentos são feitos. Você já percebeu, na sua própria comunidade social, como cada pessoa cumprimenta? Mesmo quando se há diferenças, a finalidade deles se mantém. O que você acha sobre isso?
Estas mesmas habilidades são fundamentais para fazermos amizades. Ter amigos é um componente de autocuidado para nossa saúde psicológica e física. Os que vivem na solidão estão mais sujeitos a episódios de depressão, baixa autoestima e maiores incidência de problemas orgânicos de base psicológica, podendo apresentar maior frequência de comportamentos de risco (Del Prette, 2022).
Voltando para o espaço escolar, a figura do(a) amigo(a) torna a jornada mais prazerosa, para além de todo o processo cognitivo cujo ganhos também são impactados com a construção dessa rede afetiva. Aprender de forma saudável em grupo, promove a construção de memórias afetivas que nos acompanham durante toda a nossa trajetória de vida. Desenvolvendo, inclusive, outras competências como a de Vida e Bem-Estar, onde a manutenção das relações e o tempo de qualidade entre elas são fundamentais.

No Grande Livro das Emoções, Bisquerra (2012) afirma que “dividir as emoções é, provavelmente, o topo mais alto e prazeroso da convivência humana”. Assim, ao longo do caminho, a amizade assume um papel importante para o desenvolvimento socioemocional dos seres humanos, para além da interação necessária ao convívio cotidiano, com ela conhecemos emoções, aprendemos a nos regular e construímos sentimentos que nos acompanharão ao longo da nossa vida. Mas isso, óbvio, que precisa ser construído e mantido de maneira funcional e saudável.
Assim, os laços construídos na fase escolar tornam-se elementos de aprendizagem em Educação Socioemocional. Introduzindo-nos nas experiências de novas emoções sob uma perspectiva de partilha extrapolando os muros da escola. Assim, revelamos a grande “magia” da amizade na escola, através do desenvolvimento das habilidades sociais possíveis no ato de se cultivar amizades.
No cotidiano escolar, aprendemos a desenvolver e amadurecer nossa sociabilidade. E, como toda Competência Socioemocional, a construção afetiva envolvida na amizade também envolve no processo de aprendizado. Por agora, deixo por aqui um trecho da “Canção da América” de Milton Nascimento:
Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Referências
BISQUERRA, R. Psicopedagogia de las emociones. Espanha: Editorial Sintesis, 2009.
DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Habilidades sociais e desenvolvimento socioemocional na escola: manual do professor. São Carlos: EdUFSCar, 2022.
NASCIMENTO, M.; BRANT, F. Canção da América. Rio de Janeiro: Universal Music International, 1980. Disponível em: < https://youtu.be/75kf9y_fukM?si=7rJXzf_nuTjnMvv2 >. Acesso em: 10 out. 2024.
PUJOL, E.; BISQUERRA, R. O grande Livro das Emoções. São Paulo: Ciranda Cultural, 2012.