Por Ludmilla Santos – Consultora Pedagógica e Assistente Social
Grande parte dos casos de violência e abuso contra crianças e jovens ocorrem dentro do próprio ambiente familiar, onde deveria ser de segurança, confiança e proteção, acaba se tornando uma violação de direitos que geram consequências em todas as áreas de desenvolvimento em fases tão cruciais para o público em questão. É urgente e necessário reconhecer a escola como um espaço estratégico de escuta e acolhimento dessas demandas, pois uma pessoa violentada tende a criar barreiras emocionais dificultando o compartilhamento da situação vivenciada.

Ao chegar na escola, sentindo-se protegida, segura e estabelecendo o sentimento de confiança com a turma, com a equipe escolar e principalmente com o (s) professor (es), essas crianças e jovens podem externalizar em forma de tristeza, raiva, estendendo-se para um pedido de ajuda (que deve contar como uma rede externa e ampla como a assistência social e psicológica).
O diálogo é uma ferramenta capaz de amenizar situações de sofrimento por permitir a partilha de algo que incomoda e diante de uma esculta acolhedora, sem julgamentos é possível construir um espaço confortável de vínculo e confiança que pode ser um mecanismo inicial para enfrentamento de diferentes problemáticas. Del Prette (2022), aponta o quanto “é importante criar oportunidades de diálogo, dispor-se a ouvir (mais do que falar) e evitar censuras para que a criança se sinta à vontade para falar sobre seus problemas.”
É importante mencionar que a presença de profissionais qualificados para conduzir relatos de situações de violência, guiando a comunidade escolar no cuidado e atenção com esse tipo de demanda é imprescindível. Quando a escola não conta com esta possibilidade, manter-se conectada às redes municipais e estaduais de Proteção à Criança e Adolescentes é o melhor caminho.

O ato e a própria coragem para falar e expor situações delicadas nem sempre são utilizadas como recursos, o que pode vir também em forma de comportamentos diferentes dos habituais, o que pode ser visto como um ponto de atenção de que algo não está bem. Emoções como tristeza, medo, raiva, situações de isolamento ou afastamento repentinos quando observados podem sinalizar um alerta. Nestes casos o acolhimento se dá na sutileza de perceber verdadeiramente o outro. Estas mudanças muitas vezes sensíveis são percebidas por quem está mais perto, quem observa atentamente. Em campanha sobre o 18 de maio, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, afirma que a “Atenção aos sinais, diálogo e rede de proteção são fundamentais para quebrar ciclo de violência sexual contra crianças e adolescentes (BRASIL, 2024).
Esta pauta propõe trazer debates e reflexões de como as aulas de educação socioemocional têm se tornado canais relevantes para que crianças e adolescentes aprendam a identificar e comunicar o que sentem. Nesse contexto, a escola se torna o ponto de chegada dessas falas — e precisa estar preparada para acolhê-las com responsabilidade. Professores com uma escuta atenta, bom vínculo com seus alunos e sensibilidade acabam por desempenhar um papel fundamental nesse processo e a abordagem socioemocional contribui diretamente para que a escola atue como um fator de proteção no desenvolvimento dos alunos.
Quando a educação socioemocional já é realidade no contexto escolar é mais fácil que temas diversos possam ser abordados de modo mais assertivo e com resultados baseados na informação e no conhecimento compartilhado de forma construtiva. Conhecer a si mesmo e suas emoções é libertador para entender os próprios limites e ter coragem para expressar angústias e medos, e dessa forma procurar ajuda para evitar e sair desse ciclo de violência.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério dos Diretos Humanos e Cidadania. Atenção aos sinais, diálogo e rede de proteção são fundamentais para quebrar ciclo de violência sexual contra crianças e adolescentes.
Disponível em:<https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/maio/atencao-aos-sinais-dialogo-e-rede-de-protecao-sao-fundamentais-para-quebrar-ciclo-de-violencia-sexual-contra-criancas-e-adolescentes>. Acesso em 19 mai. 2025.
DEL PRETTE, Z. A. P. Habilidades e desenvolvimento socioemocional na escola: manual do professor. São Carlos: EdUFSCar, 2022.
SANTOS, E. Conversas corajosas [recurso eletrônico]: como estabelecer limites, lidar com temas difíceis e melhoras os relacionamentos através da comunicação não violenta. 1. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2021.