Mês do Educador: A Educação Socioemocional como caminho para o autocuidado do professor

Por Denise Santos – Consultora Pedagógica

Celebrar o Mês do Educador é, antes de tudo, um convite à pausa. Uma pausa necessária para reconhecer a força e a sensibilidade daqueles que, todos os dias, constroem pontes entre o conhecimento e a vida. No entanto, por trás de cada planejamento, de cada gesto de acolhimento e de cada olhar atento, existe um ser humano que também precisa ser cuidado. A educação socioemocional surge, nesse contexto, como um caminho potente de autocuidado e de reconexão com o próprio propósito de educar.

Educadores do município de Igarapé (MG) em momento de vivência em Educação Socioemocional

Ser educador é estar em constante entrega. É ouvir, orientar, compreender, motivar – muitas vezes, mesmo quando as próprias forças parecem escassas. Por isso, falar de educação socioemocional não é apenas falar sobre desenvolver competências em nossos alunos, mas também sobre cultivar em nós, professores, a capacidade de reconhecer e gerir nossas emoções. Como afirma Daniel Goleman, “a forma como lidamos com as emoções determina o sucesso de nossas relações e o equilíbrio da nossa vida”. O mesmo se aplica à vida docente: quanto mais o educador se conhece, mais consciência tem de seus limites e potencialidades, e mais saudável se torna sua prática.

De acordo com Rafael Bisquerra (2000), um dos maiores estudiosos do tema, a educação emocional é “um processo educativo contínuo e permanente, que pretende potencializar o desenvolvimento das competências emocionais como elemento essencial do desenvolvimento integral da pessoa”. Quando transportamos essa ideia para a realidade da escola, compreendemos que o autocuidado docente não se resume a momentos de lazer ou descanso – ele é também um ato pedagógico. Cuidar de si é o primeiro passo para cuidar do outro.

Muitas vezes, o professor se sente pressionado a “dar conta de tudo”: preparar aulas criativas, lidar com as demandas administrativas, atender alunos com diferentes realidades e ainda manter o equilíbrio pessoal. Nesse cenário, o desgaste emocional é inevitável quando o autocuidado não é cultivado de forma intencional. É nesse ponto que as práticas socioemocionais podem atuar como um refúgio e um recomeço.
 Técnicas de respiração consciente, rodas de escuta, momentos de reflexão e até pequenos rituais de gratidão podem transformar a rotina escolar em um espaço mais humano e sensível.

Marshall Rosenberg, criador da Comunicação Não Violenta (CNV), nos lembra que “por trás de todo comportamento há uma necessidade humana não atendida”. Ao olhar para o educador com essa lente, percebemos que o cansaço, a irritação e a desmotivação muitas vezes escondem necessidades básicas de reconhecimento, descanso e pertencimento. Praticar o autocuidado, portanto, é também um ato de empatia consigo mesmo — de se permitir sentir, pausar e recomeçar com mais leveza.

Nesse sentido, o educador se torna modelo de equilíbrio emocional, inspirando seus alunos a também se conhecerem e se cuidarem. Como afirmam Salovey e Mayer (1990), a inteligência emocional é “a capacidade de perceber, compreender e regular as emoções em si e nos outros”. Essa tríade é o alicerce de uma prática pedagógica humanizadora, que reconhece a emoção como parte essencial da aprendizagem.

A educação socioemocional propõe que o professor desenvolva habilidades como autoconhecimento, autorregulação, empatia, responsabilidade e tomada de decisão consciente. Essas competências não apenas fortalecem o educador em sua prática, mas também o ajudam a construir relações mais saudáveis dentro do ambiente escolar. Quando um professor se reconhece emocionalmente, ele passa a enxergar o aluno para além do comportamento e das notas — ele o vê como um ser integral, em processo de desenvolvimento humano.

Edgar Morin, ao refletir sobre os desafios da educação contemporânea, nos lembra que “é preciso ensinar a condição humana”. Essa frase sintetiza o propósito maior da educação socioemocional: devolver humanidade à escola, ao professor e ao ato de ensinar. Em um mundo acelerado e repleto de exigências, lembrar-se de que somos humanos antes de sermos profissionais é um gesto de coragem e sabedoria.

O Mês do Educador, portanto, pode ser um convite simbólico a esse reencontro: um tempo de celebrar a trajetória, resgatar o sentido da profissão e reconhecer que cuidar de si é também um ato de amor pela educação. Afinal, um professor emocionalmente saudável é aquele que ensina com o coração aberto, sem se perder de si mesmo no processo.

Mais do que comemorar datas, que possamos, enquanto educadores, cultivar uma cultura de autocuidado, empatia e equilíbrio emocional, lembrando sempre que o desenvolvimento do outro começa dentro de nós.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *