Por Rodrigo Barbosa – Consultor Pedagógico*
Olá leitores, sabemos que o final de ano costuma ser um período intenso: são celebrações, encontros, expectativas familiares e sociais, além das famosas compras de presentes, roupas, ceias e viagens. Em meio a essa energia, é comum que nossas emoções fiquem mais afloradas, momentos impulsivos, estresses, aquela euforia confundida com felicidade e influenciem diretamente nossas decisões de consumo.

A combinação de cansaço acumulado, pressão social para “dar conta de tudo”, desejos não resolvidos, sonhos de crianças querendo ser realizados e estímulos comerciais quase constantes cria um terreno fértil para compras impulsivas, estresse emocional e até frustração pós-festas.
Por isso, falar de regulação emocional nesse período é extremamente importante, quando compreendemos melhor o que sentimos e aprendemos a gerenciar nossas emoções, conseguimos fazer escolhas mais equilibradas e construir festas mais saudáveis, tanto para nosso bem-estar quanto para nossas relações e para o bolso.
Mas afinal o que é regulação emocional?
A regulação emocional envolve a capacidade de identificar, compreender e modular nossas emoções, para Rafael Bisquerra, referência na área de educação emocional, desenvolver essas competências favorece o bem-estar ampliando nossa capacidade de agir de forma consciente, mesmo diante de estímulos fortes, como as famosas promoções, expectativas sociais e o famoso “espírito natalino” (que deixa todo ambiente ainda mais bonito).
Já o pensador francês Edgar Morin nos lembra que problemas humanos precisam ser vistos de forma complexa: nossas emoções estão conectadas à cultura, à sociedade, ao consumo e ao modo como lidamos com as festas. Ele aponta que educar para a vida inclui ensinar as pessoas a equilibrar razão, emoção e ética.
Quando unimos Bisquerra e Morin, ganhamos um entendimento completo:
• Precisamos aprender sobre emoções (educação emocional),
• E precisamos enxergar o contexto que amplifica essas emoções, como a pressão de comprar, a comparação nas redes sociais e a busca por pertencimento (pensamento complexo).

Então por que sentimos tanto impulso para comprar no final do ano?
Somos influenciados a todo momento, vendo árvores de natal lindas, com nossos personagens favoritos, vitrines com roupas impecáveis e pacotes de presentes para todos os lados e isso não são necessidades reais, mas geram fatores emocionais e ambientais. Sabiam que:
• Emoções fortes: tanto positivas (euforia, empolgação) quanto negativas (ansiedade, tristeza), aumentam a probabilidade de compra impulsiva.
• Ambientes decorados, músicas festivas, anúncios e ofertas relâmpago ativam áreas ligadas ao prazer e à recompensa.
• Presentear pode funcionar como uma forma de buscar conexão emocional, mesmo quando isso pesa no orçamento.
Sem regulação emocional, é fácil cair em “soluções rápidas”: comprar para aliviar tensões, para agradar, para esquecer problemas ou para tentar “compensar” afetos.
Como usar a regulação emocional para viver um final de ano mais leve?
1. Antes das compras: prepare-se emocionalmente
• Faça um inventário emocional: como você costuma se sentir nesta época? Cansado? Ansioso? Animado demais? Identificar padrões já diminui impulsividade.
• Defina um limite financeiro realista, e importantíssimo escreva. O ato de registrar fortalece o compromisso.
• Planeje presentes e gastos com antecedência para não decidir sob pressão.
2. Durante as compras: estratégias práticas
• Use a regra da pausa: espere 24 a 48 horas antes de comprar itens não essenciais.
• Reavalie o impulso: pergunte-se “isso é desejo momentâneo ou necessidade?”.
• Compre com lista na mão: simples, mas altamente eficaz e se possível já pesquise valores antes de sair de casa.
• Evite comprar cansado ou estressado, pois o cérebro busca alívio rápido, e esse alívio pode vir em forma de consumo.
3. Nas festas: cuide das emoções e da convivência
• Crie rituais de presença: trocar histórias, fazer dinâmicas familiares, preparar lembranças simbólicas.
• Lembre-se de que afeto não é medido pelo valor do presente, mas pela qualidade da conexão.
• Permita-se descansar: festas não precisam ser performances de perfeição.
4. Como comunidade: repensar tradições e hábitos
• Incentive práticas como amigos-secretos simbólicos, presentes feitos à mão, doações e trocas.
• Proponha celebrações com mais significado e menos consumo, isso aproxima as pessoas e reduz tensões financeiras.
Desta forma teremos festas mais saudáveis não focado no que é comprado, mas sim no como nos sentimos. Ao integrar a educação emocional de Bisquerra com o pensamento complexo de Morin, percebemos que cuidar das emoções é também cuidar da forma como escolhemos, convivemos e celebramos.
E quando conseguimos em pequenos gestos e momentos regularmos nossas emoções, reduzimos compras impulsivas, evitamos arrependimentos e vivemos um final de ano mais equilibrado, afetivo e consciente. Assim, celebramos não só datas, mas vínculos que é o que temos de mais valioso.
Referências:
Bisquerra, R. (2003). Educación emocional y competencias básicas para la vida. Revista Interuniversitaria de Formación del Profesorado.
Bisquerra, R. (2000). Educación emocional y bienestar. Desclée de Brouwer.
Morin, E. (1999). Os sete saberes necessários à educação do futuro. UNESCO.
*Escrito por:
Rodrigo Barbosa da Silva é psicólogo e consultor socioemocional, especialista em Neuropsicopedagogia, com mais de 10 anos de atuação. Caminha ao lado de pessoas e comunidades, ajudando-as a transformar dores em potência e desafios em significado. Acredita no cuidado como encontro, na escuta como ponte e na educação emocional como trilha para uma vida mais humana.
Instagram: @rbs.psicologo
