Educação Socioemocional e a Luta dos Povos Indígenas: reflexões sobre respeito, empatia e justiça 

Por Laura Paiva – Consultora Pedagógico

Nós, brasileiros, temos uma celebração que pulsa no coração da cultura do país: o Carnaval. Essa festa transborda alegria e se manifesta de infinitas formas. Em 2024, no Rio de Janeiro, a escola de samba Salgueiro levou para a avenida um enredo emocionante, exaltando a resistência e a dignidade do povo Yanomami, convidando todos a se somarem na luta por seus direitos. Uma demonstração de como a folia pode ser também um grito de consciência.   

Porém, a realidade vivenciada pelos povos originários está longe da exaltação de suas lutas e resistências. Para contextualizar, nos últimos anos, o garimpo ilegal invadiu as terras do povo Yanomami, causando, entre outros problemas, a contaminação do solo, deixando a terra adoecida e imprópria para a subsistência e para os rios, e consequentemente causando mortes dos próprios povos originários, direta ou indiretamente. Este é apenas um recorte triste de vivência dentre as mais variadas realidades que as populações indígenas enfrentam no nosso país. 

Dessa forma, quando pensamos no socioemocional e as práticas de violência, refletimos sobre a necessidade de desenvolver respeito e empatia, que são partes da competência social, de acordo com Rafael Bisquerra. Com isso, construir e manter boas relações com os outros é uma forma de pensar na valorização da cultura indígena e diversidade cultural, já que se colocar no lugar do outro é algo que pode ser construído com o decorrer da compreensão das mais variadas vivencias.  

Dentro do cenário de violência contra os povos originários, percebemos a importância da demarcação de terras para reforçar o respeito e a diversidade dos povos originários. Sendo assim, o direito a demarcação das terras indígenas está na Constituição Federal, no artigo 231 que descreve que cabe a União demarcá-las, protegê-las e fazer respeitar todos os seus bens. Podemos dizer que a demarcação das terras indígenas é uma questão de saúde emocional, física e mental dos povos originários. 

Com isso, podemos pensar no quanto de autonomia emocional é importante para os povos originários, isso porque nessa competência é desenvolvido autoestima, análise crítica sobre as normas socais, resiliência e atitude positiva diante da vida. Dessa forma, buscar seus direitos sociais frente as situações vivenciadas é uma forma de conseguir entender as necessidades socioemocionais que são importantes para a comunidade. 

Por outro lado, o marco temporal é uma tese jurídica que define que a ausência da comunidade indígena em 5 de outubro de 1988, data promulgação da Constituição Federal, descaracteriza o seu pertencimento. Ou seja, essa lei abre uma brecha para que as mais variadas formas de exploração e violência aconteçam, como o caso do povo Yanomami. 

A não demarcação de terras implica em diversas questões socioemocionais, como por exemplo a insegurança, medo, tristeza. Aprender sobre as emoções desconfortáveis é uma das competências trabalhadas em nossos materiais, que é a competência de consciência emocional. Essa competência é necessária para o desenvolvimento da linguagem emocional, por isso é necessária, mas passar por situações de violência é desrespeitoso e injusto.  Sendo assim, reconhecer a importância da luta dos povos originários é uma forma de valorização da cultura indígena. 

Portanto, o respeito a diversidade dos povos originários é ser sensível e empático com as suas vivencias, é saber ouvir e buscar respeitar os seus espaços, é também dar espaços de fala, dialogando sobre as necessidades que possuem. Além disso, reconhecer os privilégios não indígenas é uma forma de se posicionar nesse processo de luta, já que ao olhar para a realidade vivenciada pelos povos Yanomami podemos perceber que existem questões socioemocionais necessárias de serem debatidas. 

Uma cantora indígena, Kaê Guajajara, escreveu em uma das suas canções “Me diz pelo que você luta? Que ar você respira, senão o meu fôlego? Que comida você come, senão a que eu dou? Abra a sua mente antes da sua boca. É o Brasil que ninguém vê”. Com o socioemocional, buscamos refletir sobre as necessidades por meio do diálogo, respeito e empatia, pois assim é possível pensar em justiça.  

Dessa forma, a garantia de direitos dos povos originários é também uma forma de desenvolver a competência de vida e bem-estar, detalhada por Rafael Bisquerra. Nessa competência, trabalhamos a importância de buscar ajuda e recursos sempre que necessário, ou seja, percebemos que com a resistência dos povos originários é um pedido de cooperação. 

Por fim, as competências socioemocionais são desenvolvidas com o decorrer das vivencias de cada um, e assim percebemos que com as oficinas, rodas de conversas e contação de histórias são estratégias de desenvolver as habilidades socioemocionais. Com isso, a luta dos povos originários é uma forma de visualizar todas as competências socioemocionais trabalhadas nos nossos materiais. 

Referencias: 

Constituição federal 1988 

Lei 14401 

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2 thoughts on “Educação Socioemocional e a Luta dos Povos Indígenas: reflexões sobre respeito, empatia e justiça 

  1. Excelente temática. Acredito que toda escola brasileira deveria ter projetos institucional sobre os povos indígenas, destacando nossa cultura e origem.

    1. A Hug acredita que trabalhar o respeito e a diversidade de culturas dentro das salas de aula é o caminho para a construção de uma sociedade mais justa e de paz. Vamos juntos desenvolver uma educação que transforma realidades!

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