*Por Wanessa França – Jornalista
A vida seguia tranquila para Janaína e sua filha Sophia que, à época, tinha apenas 1 ano e 4 meses; uma “criança acima da média”, como relatou Janaína. Entre as brincadeiras e o encanto de acompanhar o crescimento de sua filha, o dia a dia rotineiro e comum passaria a ter novos desafios à medida em que mudanças significativas no comportamento da pequena Sophia iam surgindo, “Foi um momento muito difícil, ela parou de falar e não existia mais comunicação”, relatou a mãe.
A ausência de comunicação repentina foi o primeiro sinal que chamou a atenção de Janaína que, na tentativa de entender o que estava acontecendo com Sophia, iniciou suas buscas através da internet. “Então, o nosso primeiro passo foi pesquisar na internet as características do autismo, foi aí que encontramos vários vídeos no YouTube falando sobre o assunto. Antes mesmo de levar ela ao neuro, nós já estávamos preparados para o que iríamos enfrentar”, continuou Janaína.

Neste ímpeto de buscar ajuda para sua pequena, Janaína e sua família – após consultas e investigação – recebeu o diagnóstico de que Sophia é uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), nível 2 de suporte.
Para entender melhor, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social, e pode causar comportamentos restritivos e repetitivos, onde cada pessoa com TEA possui diferentes reações aos estímulos sensoriais como, por exemplo, maior ou menor sensibilidade a sons, luzes ou toques. Dessa forma, é preciso destacar que cada pessoa com autismo é única, enquanto umas precisam de pouco apoio, outras necessitam de ajuda constante para lidar com as demandas do cotidiano.
Janaína ainda relatou que precisou se adaptar à nova realidade e às crises que Sophia apresentava, onde “qualquer mudança na rotina dela, seja receber alguém em casa ou levá-la para sair, a deixava doente nos dias seguintes, a ponto de ter febre e não se alimentar”. Essa “ressaca social”, como Janaína nomeia, se perpetua até hoje, mesmo com a rotina de terapia. “Ela continua com a ressaca social, mas atualmente os sintomas são irritabilidade e falta de apetite. Hoje, sei respeitar o tempo dela, aprendi também a identificar quando a crise está por vir e, antes que aconteça, afasto ela do ambiente, o que ajuda a diminuir as crises no dia seguinte, mas elas continuam existindo, porém em menor intensidade quando comparamos ao início”, complementou. O TEA também se configura pelos três níveis de suporte, onde o indivíduo de cada nível apresenta características e necessidades específicas.
Para a designer e advogada Christianne Cavalcante, o TEA é um conceito ao qual já estava familiarizada, especialmente enquanto advogada, por pleitear casos em que o objetivo era o reconhecimento, acolhimento e garantia dos direitos de crianças com autismo; além de sempre ter a curiosidade de pesquisar e estudar sobre a temática. Dessa maneira, Christiane passou a observar seu sobrinho de quase 1 ano de idade e percebeu que o pequeno Rafa interagia de maneira diferente com as formas e cores ao seu redor. Algum tempo depois, Rafael (hoje com 3 anos de idade) recebeu o diagnóstico de TEA.
Christiane relata ainda que receber o diagnóstico cedo permitiu ao Rafa iniciar sua rotina terapêutica “foi bom para ele, pois assim pode ter o acesso a tudo que foi necessário para que pudesse se desenvolver bem”, continuou a designer.
Inclusão Escolar e Rotina Pedagógica
Falar sobre TEA também é trazer ao debate a inclusão de pessoas com autismo nos espaços escolares, uma vez que, além de se fazer valer a garantia de um direito fundamental, a rotina pedagógica contribui no processo de desenvolvimento do indivíduo. Dessa maneira, entende-se que a rotina pedagógica é um instrumento facilitador da aprendizagem e da inclusão das pessoas com transtorno espectro autista (TEA), pois o seu desenvolvimento no ambiente escolar favorece o bem-estar nas atividades diárias ao fornecer a sensação de segurança e estabilidade. De acordo com BARBOSA (2006, p.35), “uma rotina adequada torna – se um instrumento facilitador da aprendizagem, ela permite que a criança estruture sua independência e autonomia, além de estimular a socialização”. Sendo assim, as crianças com TEA, ao seguirem uma rotina pedagógica centrada no que ela necessita, são estimuladas e vivenciam a inclusão em si, e por isso o processo de ensino e aprendizagem no cotidiano escolar torna-se significativo.


Estar no ambiente escolar também foi um desafio para Sophia e sua mãe Janaína. De início, a rotina era bastante cansativa para as duas, porém, com o tempo e o processo de adaptação, a comunidade escolar na qual fazem parte as acolheram. “A escola a abraçou muito bem, consegui passar para as professoras todos os comportamentos da Sophia e o que fazer em casos de crises. Lá o espaço é pequeno, escolhi uma escola menor e familiar porque assim acredito que ela estará mais protegida. (…) Têm dias que ela vai para escola feliz e têm dias que vai chorando até chegar lá, mas sempre chega bem. Ela já se adaptou a todos e os coleguinhas também ajudam a cuidar dela”, contou Janaína.
Segundo o Psicólogo e Consultor Pedagógico, Adelmo Neto, “a rotina pedagógica, habitua essa pessoa com autismo no ambiente, principalmente, dando suporte proporcionando uma sensação de pertencimento, de que ‘aquele lugar me pertence’ e que ‘eu pertenço àquele lugar’”.
Campanha do Abril Azul
São relatos como estes, vistos durante esta reportagem, que impulsionaram a criação da campanha do Abril Azul. Durante todo o mês são realizadas ações que promovem a conscientização, compreensão, aceitação e o apoio às pessoas com autismo, buscando evitar preconceitos, esclarecendo sobre suas necessidades e as formas de apoio adequadas.
Por sua vez, a cor azul, símbolo dessa luta, convida a todos para refletirem sobre a importância de construir um mundo mais inclusivo e respeitoso, onde as diferenças sejam valorizadas e celebradas.
A Educação Socioemocional abraça o Abril Azul
Abraçando também as ações que fazem parte da campanha do Abril Azul, a Educação Socioemocional desenvolve um papel fundamental no crescimento de crianças e adolescentes com TEA. Esta afirmação se evidência quando se coloca em análise, por exemplo, o pentágono das emoções desenvolvido pelo psicopedagogo e Doutor em Educação Rafael Bisquerra.
Através do pentágono, Bisquerra trabalha cinco competências emocionais que contribuem para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade como um todo. Assim, o psicopedagogo classifica: A Consciência e Regulação emocional, que consiste na tomada de consciência acerca das próprias emoções, das emoções do próximo e até mesmo da percepção do clima emocional de um ambiente ou determinada situação, e a capacidade de lidar com as emoções de maneira apropriada, respectivamente. Além de evidenciar a autonomia Emocional, que se compreende no conjunto de elementos e características relacionados a gestão de si, incluindo, a autoestima e responsabilidade.
Bisquerra também explica a Competência Social, cuja característica principal é a capacidade de manter boas relações com outras pessoas; e, por fim, o psicopedagogo conceitua as Habilidades de Vida e Bem-Estar que correspondem a capacidade do indivíduo de adotar comportamentos apropriados e responsáveis que contribuem para o enfrentamento apropriado dos desafios diários da vida.
Todas essas competências pensadas por Rafael Bisquerra estão presentes na metodologia da Hug Education, se estendendo à temática do Abril Azul e ao desenvolvimento de pessoas com TEA. Com a Educação Socioemocional esses indivíduos têm acesso a uma nova ferramenta que os auxiliam no amadurecimento da autoconsciência, da regulação emocional, além da empatia e responsabilidade.
Conscientizar além de Abril
A conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista deve ir além de um esforço contínuo durante o mês de abril; deve ser uma prática diária em todos os setores da sociedade ao longo de todo o ano, objetivando construir um ambiente mais inclusivo, onde supere as barreiras do preconceito e da exclusão.
O respeito à diversidade e a promoção de políticas públicas voltadas para o atendimento das necessidades das pessoas com TEA são passos importantes para garantir que todos tenham acesso à educação, ao trabalho e à convivência social de forma digna e igualitária.
Finalizando sua fala, Janaína enfatiza que “aprender e entender sobre o autismo é um compromisso de todos (…) cada dia que passa vemos os casos aumentando, sem contar nos diagnósticos que não são dados devido à falta de conhecimento, onde as pessoas -por puro preconceito- preferem não saber o que o filho tem, condenando-os a terem uma vida de sofrimento. Explicar aos nossos filhos sobre o autismo deveria fazer parte do nosso cotidiano. (…) Que as pessoas possam se informar e simpatizar com a causa o ano inteiro e não só no mês de conscientização sobre o autismo”.
*Contribuíram para esta reportagem: Juliana Sousa, Priscila Fidelis e Mayara Magda (Consultoras Pedagógicas e Psicopedagogas)
Referências bibliográficas:
ALAGOAS. Compreendendo o TEA: Um Guia para a Família. Secretaria de Estado da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (SECDEF/AL), 2024. Disponível em: https://www.secdef.al.gov.br/documentos?task=download.send&id=94&catid=33&m=0. Acesso em: 03/04/2025
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) & Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2023). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (5ª ed. rev.). Porto Alegre: Artmed.
BARBOSA, M.C.S. A rotina nas pedagogias da educação infantil: dos binarismos à complexidade. Currículo sem fronteiras, v.6, nº1. pp.56-69 , Jan/Jun. 2006.
É um compromisso de todos aprender, compreender e entender sobre o Autismo , abraçar a causa, respeitar, amar e incluir.
A inclusão faz parte dos nossos pilares, vamos juntos espalhar pelo mundo uma educação que transforma realidades e abraça a diversidade!