Artigo: O que vale mais?  A nota ou a emoção?

Por Alice Rocha Lins – Psicopedagoga/ Analista de Avaliação e Qualidade

Passamos toda a nossa vida procurando obter as melhores notas em nosso período escolar, na expectativa de conseguir as melhores vagas e oportunidades que o mundo pode oferecer. A nota escolar era artigo de luxo, motivo de exibição, como prova de utilidade. Somente aqueles com as melhores notas se destacam, mas a vida, nos ensina de forma didática e direta, que as melhores notas não auxiliam na nossa qualidade de vida, as melhores notas não trazem os resultados, pelo menos, não os mais satisfatórios em vários aspectos do nosso projeto de vida.

Alunos da rede de educação estadual de Alagoas em aula sobre a educação socioemocional. *Imagem cedida pela escola.

Aos poucos começamos a entender que por menos, essas notas não definem quem somos, o que queremos e muito menos o que sentimos. Construir essa percepção e quebrar crenças tão antigas, significa um processo de recomeço e de cura de muitos pensamentos e limites que imaginávamos ter sobre nosso próprio potencial.  Construir nossa inteligência emocional nos tempos atuais com a responsabilidade de passar as próximas gerações os significados das emoções, do diálogo e dos valores éticos simples e eficazes de construir uma sociedade de respeito ao próximo, requer uma coragem para enfrentar a velha-guarda da disciplina e da falta de empatia ao outro. Agarrados as antigas ideias de que o bom e velho silêncio vale a pena, quando na verdade precisamos treinar nossa escuta ativa com o objetivo de perceber o outro.

Nossa aptidão intelectual não deveria ser a primordial ferramenta que nos conduz, dispomos de outros tipos de recursos que, consequentemente deixamos de lado, que são mais importantes para nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Uma delas, seria a construção e aprimoramento da nossa inteligência emocional. Goleman (2012, p. 151-152) mostra que, a habilidade no manejo dessas estratégias e a escolha do momento adequado para utilizá-las é um fator de inteligência emocional. Que impacta em mostrar que conhecer nossas próprias emoções, promovendo um resultado poderoso em nossa vida. Contribuindo de forma positiva em vários setores, seja na família, no trabalho ou em sociedade.  Conhecendo suas emoções, avaliando como isso pode impactar e como pode agregar coisas positivas e negativas, procurando melhorar sua inteligência emocional para conseguir desenvolver suas habilidades cada vez mais.

Alunos da rede de educação estadual de Alagoas em aula sobre a educação socioemocional. *Imagem cedida pela escola.

Nossas emoções dão a nota necessária em nossa vida, de forma vívida, nos guiando em nossos melhores erros e acertos. Toda a nossa construção intelectual, passa pela se molda pela experiência profissional e familiar, e Goleman (2012), afirma que, como sabemos por experiência própria, quando se trata de moldar nossas decisões e ações, a emoção pesa tanto — e às vezes muito mais — quanto a razão. Fomos longe demais quando enfatizamos o valor e a importância do puramente racional — do que mede o QI — na vida humana. Para o bem ou para o mal, quando são as emoções que dominam, o intelecto não pode nos conduzir a lugar nenhum. Mas será mesmo?

Essa afirmação deveria causar a verdadeira provocação e percepção das nossas emoções e como estamos gerenciado elas desde a nossa infância até esse momento atual de nossas vidas. Se conseguimos conduzir de forma sensata nossas decisões entre a razão e a emoção, levando nosso íntimo a pensar de forma saudável nesse processo, sem espaços para culpas ou ressentimentos, mas trazendo a ressignificação de estarmos em constante evolução de maturidade e aprendizado.

Alunos da rede de educação estadual de Alagoas em aula sobre a educação socioemocional. *Imagem cedida pela escola.

Frankl (2022) afirma que a maneira como nos comportamos diante das dificuldades revela quem realmente somos, e essa perspectiva pode ser aplicada ao contexto educacional e à busca pelo propósito de vida. As notas escolares, frequentemente vistas como medidas de sucesso ou fracasso, são apenas uma pequena parte da jornada acadêmica e na vida. O verdadeiro valor está na resiliência e na determinação com que os estudantes enfrentam os desafios. Esse enfrentamento, por sua vez, está profundamente ligado ao propósito de vida de cada indivíduo. Quando um estudante encontra um propósito maior em seus estudos, as emoções saudáveis, como a satisfação e a motivação, tornam-se mais frequentes, promovendo um ciclo virtuoso de dedicação e realização. Assim, a educação transcende a mera aquisição de conhecimentos, tornando-se um caminho para o autoconhecimento e a realização pessoal.
               Portanto, é imperativo que reavaliemos a importância das notas escolares e do intelecto puro em nossas vidas, reconhecendo que a inteligência emocional desempenha um papel crucial no nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Ao priorizarmos o entendimento e o manejo das nossas emoções, não só melhoramos nossas relações e tomadas de decisão, mas também cultivamos um ambiente mais empático e respeitoso. Assim, ao enfrentarmos os desafios com resiliência e determinação, conforme Frankl (2022) destaca, encontramos um propósito maior que nos guia, trazendo satisfação e motivação contínuas. Em última análise, uma educação que valoriza tanto a inteligência cognitiva quanto a inteligência emocional prepara indivíduos mais completos e realizados, prontos para contribuir positivamente em todos os aspectos da vida e da sociedade.

Referências Bibliográficas

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2 Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, 383 p.

FRANKL, Viktor E., 1905-1997 Sobre o sentido da vida. Tradução Vilmar Schneider. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2022.


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